Muitos são aqueles que, após uma noite repleta de sonhos transgressores, fantásticos e desestruturados, se questionam como estes foram parar em suas mentes. De onde brotaram as imagens noturnas que, muitas vezes, devido sua extrema audácia, envergonham, atemorizam e surpreendem os mais moralistas. Para a Neurofisiologia tais sonhos decorrem de alterações funcionais normais que acontecem no córtex cerebral.
A intensa comunicação neural que caracteriza o estado de vigília depende da função ativadora de um neurotransmissor, a acetilcolina e, a “normalização” de tal comunicação, da função inibitória da histamina, dopamina, noradrenalina e da serotonina.
Quando, após o adormecimento, entramos no estado sono lento ou sono NREM, a função ativadora da acetilcolina e inibidora da histamina, dopamina, noradrenalina e da serotonina, presentes durante o estado de vigília, tornam-se menos eficazes. Desta forma, com exceção do córtex visual e, em menor grau, do córtex auditivo, toda atividade neuronal cortical e a transmissão de mensagens sensoriais decresce.
Já durante o sono paradoxal ou sono REM – quando acontecem os “verdadeiros” sonhos carregados de emoções e ricos em representações –, as descargas neuronais e a liberação de acetilcolina mantêm-se equivalentes às observadas durante o estado de vigília. Porém, ao contrário do que ocorre durante a vigília, durante o sono paradoxal ou REM, a maioria dos neurônios produtores de substâncias inibidoras pára de trabalhar, com exceção dos neurônios produtores de dopamina, cujo trabalho permanece à pleno vapor.
Ora, a desativação dos neurônios inibidores deixa o córtex cerebral praticamente fora de controle, livre para estabelecer as comunicações inter neuronais que estão na origem das “alucinações” sensório-motoras, das imagens bizarras, da diminuição do senso critico, da instabilidade tempo espacial, da intensificação emocional e dos comportamentos instintivos. Somada ao aumento da irrigação sanguínea do Sistema Límbico, responsável pelas emoções, a desinibição cortical é, portanto a principal responsável pelos fantásticos, bizarros e, muitas vezes, atemorizantes conteúdos que permeiam nossos sonhos.
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